Após o anúncio dos indicados ao Oscar, várias celebridades demonstraram desconforto ante a ausência de afro-americanos e a exclusividade de brancos na lista. Inclusive, em razão disso, várias grandes estrelas negras, como Spike Lee e Will Smith, declararam que não comparecerão ao evento.
A Academia, posteriormente à repercussão negativa, anunciou medidas que visam ampliar a diversidade racial dos seus membros.
Os críticos à revolta contra o Oscar arguem que houve poucos negros com atuações excelentes no ano. Uma das exceções seria o grande Idris Elba pelo seu papel no filme da Netflix “Beasts of no nation”. Todavia, alguns analistas especulam que a não indicação de Elba ocorreu em razão da disputa empresarial entre Netflix e os cinemas.
Pois bem, a presença apenas de brancos entre os indicados mostra, no mínimo, um problema com a representatividade das minorias (negros, hispânicos e asiáticos) na indústria. Segundo o site da revista “The Economist”, curiosamente, os hispânicos e asiáticos sofrem ainda mais que os negros em Hollywood (números desde 2000):
Negros – 12,6% da população americana – 10% dos indicados ao Oscar;
Hispânicos – 16% da população americana – 3% dos indicados;
Asiáticos – ~ 5% da população americana – 1% dos indicados.
De acordo com o “The Economist”, o problema não estaria na Academia (Oscar) e sim na escolha dos atores para “top roles” (papéis principais): “Atores pertencentes às minorias conseguem 15% dos principais papéis, 15% das indicações e 17% das vitórias no Oscar”.
Em relação à totalidade de personagens (com falas, não mero figurantes) em Hollywood, pesquisa acadêmica indica a seguinte divisão em 2013: 74,1%, brancos; 14,1%, negros; 4,9%, hispânicos, 4,4%, asiáticos, e 2,5% de outras etnias.
Assim, essas informações fornecem um resumo dessa questão nos EUA. Após tal leitura, surge uma dúvida interessante: como se dá a diversidade racial no prêmio de melhores atores do ano nas novelas da Globo (concedido no programa “Domingão do Faustão”) no Brasil, país com mais da metade da população parda e negra?
Inicialmente, importante dizer que, como nas outras áreas profissionais consideradas de elite, é baixa a presença de negros e pardos entre os atores de novelas no Brasil. Segundo matéria da Folha de São Paulo em 2015, negros e pardos (50,7% da população brasileira) somavam apenas 15% dos atores das cinco novelas inéditas em exibição na televisão aberta naquele período. Considerando que negros, hispânicos e asiáticos, aproximadamente 33% da população americana, somam 23,4% dos papéis em filmes, percebe-se que o Brasil, proporcionalmente, está muito atrás dos EUA no quesito diversidade racial entre atores.
Será que a situação melhora entre os “melhores atores do ano” da Globo, maior emissora de televisão do país?
Utilizando-se o critério da autoidentificação (adotado pelo Brasil), resta possível demonstrar que, em 20 edições do prêmio, dos 40 vencedores (20 homens e 20 mulheres), apenas 3 (7,5%) eram negros ou pardos: Taís Araújo, Camila Pitanga, e Lázaro Ramos. 7,5% de um grupo que corresponde a mais da metade da população brasileira…
Quanto aos indicados, a situação ainda piora. Entre os 96 concorrentes no período, apenas acrescenta-se o nome de Juliana Paes (ela se considera “café com leite”), ou seja, somente 4 em 98, 4,16%. Repete-se à exaustão: 4,16% de um grupo que corresponde a mais da metade da população brasileira!
Portanto, há um problema em Hollywood, mas existe outro ainda maior aqui no nosso país.