Parabéns ao Palmeiras, clube de tanta história, pela conquista do título brasileiro de 2016!
O verdão se tornou eneacampeão brasileiro, com conquistas em 1960, 67 (2), 69, 72, 73, 93, 94 e 2016.
Os argumentos contrários ao reconhecimento dos vencedores da Taça Brasil e do Robertão como “campeão brasileiros” não podem prosperar, como expliquei num post do ano passado (Se “Taça Brasil” não é brasileiro, “Copa Intercontinental” não é mundial), transcrito a seguir:
Desde 2012, a CBF unificou oficialmente os títulos brasileiros, ou seja, passou a considerar os campeões da Taça Brasil (1959-68) e Robertão (1967-70) como “campeões brasileiros”. Porém, mesmo assim, ainda permanece o debate e muitos ainda rejeitam essa denominação aos vencedores daquelas competições. Entretanto, grande parte dessas pessoas, de forma contraditória, não hesita em chamar os conquistadores da Copa Intercontinental (1960-2004) como “campeões mundiais”.
Pois bem, a maioria dos fãs de futebol conhece os argumentos favoráveis e contrários à unificação dos títulos brasileiros (equiparar Taça Brasil e Robertão ao “Campeonato Brasileiro”). Contudo, importante relembrá-los.
Aqueles favoráveis à unificação (melhor representados pelo jornalista Odir Cunha através do excelente livro “Dossiê – unificação dos títulos brasileiros a partir de 1959”), argumentam que a Taça Brasil (59-68) e o Robertão (67-70) eram as únicas competições nacionais daquele período, organizadas pela Confederação Brasileira de Desportos (a CBD, responsável pelo futebol nacional até a criação da CBF em 1979) e determinavam o legítimo “campeão brasileiro”, representante do país na Libertadores.
Enquanto os contrários à unificação, embora reconhecendo o valor histórico daqueles torneios, argumentam que não podem ser equiparados ao “Campeonato Brasileiro” em razão dos seguintes motivos: diferentes fórmulas; ausência de times de todos os estados; número diminuto de times em disputa; do fato de existirem dois campeões num mesmo ano em alguns momentos; suposto reconhecimento da imprensa de que o Campeonato Brasileiro teria começado em 1971; entre outros.
Profissionais como Odir Cunha contra-argumentam, de forma convincente que: se passou a adotar o nome “Campeonato Brasileiro” apenas em 1989 (a competição teve no passado nomes como Copa União, Campeonato Nacional, Copa João Havelange, entre outros); que várias fórmulas diferentes foram utilizadas ao longo da história (a disputa por pontos corridos apenas começou em 2003!); que a imprensa tratava os campeões da Taça Brasil/Robertão como “campeões brasileiros”; e que seria comum existirem dois campeões numa fase de transição de um campeonato para o outro.
Ora, certamente há argumentos plausíveis de ambos os lados. No entanto, há uma contradição ululante no discurso de grande parte dos jornalistas contrários à unificação dos títulos brasileiros; qual seja, profissionais como André Rizek e o excelente Juca Kfouri (entre tantos outros) tacham os vencedores da “Copa Intercontinental” como “campeões mundiais de clubes”. Esta posição é contraditória, pois os mesmos argumentos contrários à equiparação dos títulos brasileiros podem ser usados em face da equiparação entre “Intercontinental” e “ Mundial” (2000, 2005-até hoje): ausência de times de todas as regiões do mundo (apenas Europa e América do Sul participavam da competição); número diminuto de times em disputa (apenas dois times: os campeões europeu e sul-americano); fórmulas diferentes utilizadas ao longo da história (a partir de 1980, um jogo decidia o campeão!); e edições com duas equipes vitoriosas no mesmo ano (2000, Boca vencedor na Intercontinental e Corinthians no Mundial da Fifa).
A imprensa brasileira e parte da internacional da época realmente consideravam “campeões mundiais” os ganhadores da “Intercontinental”. Não obstante, alguns órgãos da imprensa, ainda que reconhecessem o vencedor como “melhor equipe do mundo”, usavam o título de “Campeão Intercontinental” Ademais, os próprios clubes europeus vencedores tratam em seus sites oficiais os dois torneios como competições diferentes (Milan, Real Madrid e Manchester United, por exemplo). Também há de se considerar que a “Copa Intercontinental” jamais foi reconhecida oficialmente pela Fifa. Ao revés disso, Joseph Blatter, presidente da Fifa, chegou a dizer que o primeiro mundial de clubes foi o Corinthian.
Enfim, uma vez que as mesmas críticas lançadas à unificação dos brasileiros podem ser direcionadas a ter o “Intercontinental” como “mundial”, inescusável, portanto a postura de parte da mídia nacional em considerar, por exemplo, o Flamengo “Campeão Mundial de 1981” e desconsiderar o Santos como “Campeão Brasileiro de 1961”.
A Taça Brasil era o único torneio nacional da época, decidia o campeão brasileiro e representante do país na Libertadores da América. Aliás, a competição sul-americana até 1965 se chamava “Copa dos Campeões da América” e até 1966 apenas reunia os campeões nacionais. Todavia, ninguém em sã consciência ousa desconsiderar as primeiras edições daquele torneio como “libertadores”.
Para facilitar o entendimento do contrassenso de grande parte da imprensa brasileira, basta usar o Santos de 1962 (o timaço de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe) como exemplo. Ao desconsiderar-se somente a unificação, o time da Vila foi: “campeão mundial” de 1962 em dois jogos contra o europeu Benfica, numa fórmula diferente da atual, num torneio chamado “Copa Intercontinental”, não oficial da Fifa e sem a participação dos demais continentes; e “campeão da libertadores” de 1962 num torneio chamado “Copa dos Campeões da América”, numa fórmula diferente da atual, apenas com a participação dos campeões sul-americanos. Mas não se sagrou “campeão brasileiro”, pois o torneio oficial organizado pela CBD, a Taça Brasil, – a qual venceu para se classificar à “Copa dos Campeões da América” – tinha outro nome e fórmula diversa da atual.
Caro leitor, onde estão a lógica e a coerência? Em razão delas, considero que fórmulas e nomes diferentes não impedem de considerar os ganhadores da Taça Brasil/Robertão (Bahia, Palmeiras, Santos, Cruzeiro, Botafogo e Fluminense) como legítimos “campeões brasileiros” e os vencedores da “Copa Intercontinental” (Santos, Flamengo, Grêmio e São Paulo, entre os brasileiros) como “campeões mundiais”.
PS: Algum conhecedor da história do futebol pode perguntar: por que então não considerar o Uruguai “campeão do mundo” nas duas Olímpiadas nos anos 20 vencidas antes da criação da Copa do Mundo? Ora, os Jogos Olímpicos existem até hoje. Aqueles jogos dos anos 20 não foram competições que ocorreram apenas num período de transição até o início dos mundiais. Se a Taça Brasil existisse até hoje como um torneio distinto e inferior ao Campeonato Brasileiro (não, a Copa do Brasil não é herdeira da Taça Brasil, pois nasceu mais de 20 anos depois, como uma competição nacional secundária), esse argumento teria a força que não possui.
Edmar
Parabéns Otávio, belo texto !!! A unificação do campeonato brasileiro foi justa pois a taça Brasil foi criada para se apurar o clube campeão do brasil conforme comprova o dossier do jornalista Odir Cunha e toda imprensa da época que reconhecia seus campeões também como campeões brasileiros de futebol. O torneio Roberto Gomes Pedrosa era tratado pela própria CBD como campeões brasileiros através de seus boletins oficiais dos anos 70 igual os títulos após 1971. Qual será a dificuldade de alguns jornalistas aceitarem esta realidade ??? Se eles dizem que o brasileirão começou em 1971 ou 1967 para alguns discriminando somente a taça brasil, por que estes mesmos da imprensa não aceitam que o mundial de clubes começou em 2000 segundo informa FIFA ??? Eu acho que é um jogo de interesses clubisticos que transforma alguns jornalistas em torcedores mais do que jornalistas esportivos. O que eu já li de bobagem destes caras para tentar argumentar contra este assunto é motivo de risos. E por fim a maior culpada é a CBF que se importa mais com dinheiro do que com futebol, estes 2 campeonatos deveriam sempre terem sido reconhecidos desde 1959 e não esquecidos por esta entidade que tem por razão de sua existência zelar pelo nosso futebol.
Otávio Pinto
Obrigado pelo comentário e elogio, Edmar.
Realmente, eu também não compreendo como se pode argumentar que Copa Toyota era “Mundial”, mas Taça Brasil não era “Brasileiro”!
Leonardo
Se for por pura questão de nome, o Campeonato Brasileiro realmente somente começou em 1989.