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Pelé e Messi em seus “peaks”

Foto: AP

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Em 2015, iniciei este blog com uma comparação entre quem, àquela altura, eu já considerava os dois maiores gênios da história do futebol: Pelé e Messi. O tempo só fez com que eu reforçasse minha opinião: ambos estão no Olimpo Supremo do esporte bretão. Pessoalmente, sigo com a visão de que Pelé não foi superado (peço, encarecidamente, a leitura do meu artigo “Por que Pelé ainda é o maior de todos”, recomendado, inclusive, pelo célebre e brilhante jornalista, Juca Kfouri).

Resolvi retornar ao tema e fazer a comparação entre o auge absoluto, chamado de “peak” em inglês, dos dois jogadores: um curto espaço de tempo no qual ambos tiveram suas melhores versões.

PELÉ

O rei viveu seu auge físico e artilheiro dos 20 aos 23 anos, de 1961 a 1963. Durante o início da década, ele foi líder de gols e provavelmente de assistências  entre os que disputavam futebol em alto nível (apesar de não existirem seus números exatos de assistências, sabe-se que, pelo menos pela seleção, seus números eram espetaculares – maior média entre todos os jogadores). Ademais, Pelé comandou tecnicamente o melhor clube do mundo, o Santos, que encantava plateias ao redor do globo em títulos e excursões memoráveis.

Para exemplificar a dominância do Rei e sua equipe, vale citar que em 1962, o time paulista bateu o Benfica, campeão europeu daquele ano, em plena Lisboa por 5 a 2 na final da Taça Intercontinental de Clubes. Pelé fez 3 gols e deu uma assistência, naquele que ele considerava seu melhor jogo na carreira. Costa Pereira, então goleiro do clube português, disse após a peleja: “Cheguei esperando parar um grande homem, mas saí convencido de que tinha sido superado por alguém que não nasceu no mesmo planeta que o resto de nós”.

A partir de 1965, as frequentes entradas violentas e o desgaste de centenas de jogos por ano, em razão das famosas excursões do Santos pelo mundo, motivaram Pelé a ganhar músculos para sua proteção, o que resultou numa leve redução de sua velocidade.  Craque do passado e competente colunista sobre o futebol, Tostão corrobora essa visão:

Os jovens acham, a história acha, que o auge do Pelé foi em 1970, e na verdade não foi. Foi em 1957, 1958, quando ele começou, com 16, 17 anos, até mais ou menos 1965. Teve um período que ele fazia em todo jogo dois, três gols excepcionais, coisa impressionante. Tanto que chegou a mais de mil gols. Era uma coisa, no Santos principalmente, e na Seleção. Era inacreditável você pensar num jogador jogar nesse nível. De 1965 a 1970 o que aconteceu foi que com o problema de idade ficou um pouco mais pesado, mas continuava melhor do que todos. Mas não tinha a regularidade e a liderança de jogar espetacularmente todos os jogos, diminuiu muito o ritmo dele.

De igual modo, Tim Vickery, jornalista inglês:

Por volta de 1970, ele havia perdido o brilho do Pelé de poucos anos atrás. Tostão, seu parceiro de ataque naquela Copa do Mundo, foi inflexível sobre isso quando falei com ele sobre o assunto alguns anos atrás. O melhor Pelé, disse, foi o antes de 1964. “Depois que ele ganhou peso e músculos, ele era mais forte, manteve sua técnica, mas se tornar mais pesado fez com que perdesse um pouco de sua mobilidade”.

O próprio Pelé diz que a sua melhor performance na carreira aconteceu em Lisboa contra o Benfica na Final do Mundial de Clubes no final de 1962. Assistir às imagens daquela performance naquele jogo é presenciar uma força da natureza – uma que poderia ter seu auge com a camisa brasileira na Copa do Mundo daquele ano.

De todos os gols que Pelé fez em Copas, o mais espetacular ocorreu na estreia do Brasil contra o México em 1962. Ele atravessa a defesa com a bola pulando ao seu lado como um cãozinho obediente, com velocidade e potência, habilidade com os dois pés e um propósito único. É um gol que o Pelé de 1958 não teria força suficiente para marcar, e que o veterano de 1970 não mais tinha movimento tão sinuoso.

A mente só pode imaginar o que Pelé poderia ter feito no resto daquele torneio de 1962.

Estatísticas* e principais conquistas entre 1961 e 1963:

156 gols em 111 jogos pelo Santos (média de 1,40) e 15 gols em 15 jogos pela seleção (1 por jogo). Total: 161 gols em 126 jogos (média de 1,27).

Tricampeão brasileiro. Bicampeão da Libertadores, bicampeão mundial de clubes, campeão da Copa do Mundo de 1962.  Ballon D’or Retroativos de 1961 e 1963.

*Apenas considerei “gols oficiais”, apesar de achar anacrônica essa diferenciação em relação à época do Pelé.

 

MESSI

 

O genial argentino viveu seu auge absoluto de 2011 a 2013, dos 24 aos 27 anos. Messi, apesar de demonstrar seu potencial com tenra idade, não foi tão precoce quanto lendas como Ronaldo e Pelé. Entretanto, seu “peak” pode ser comparado ao de qualquer outro grande jogador da história do esporte. Jogando tanto de ponta direita, quanto de falso 9, o argentino se tornou naquele período o maior artilheiro e maior garçom da Europa. O Barcelona, sob o comando do técnico Guardiola (que revolucionou o modo de se jogar o futebol) e liderado tecnicamente em campo por Messi, se firmou como um dos maiores times de todos os tempos. O catalão aduziu em 2012 após o argentino, aos 24 anos, quebrar o recorde de gols pelo Barcelona de Cesar Rodriguez, que perdurou por 57 anos:

Leo justamente entrou na história. Nós estamos testemunhando o melhor jogador em todos os sentidos. Ele faz tudo, e faz a cada três dias. Ele não apenas marca gols, ele marca golaços; cada um melhor que o outro. Nós estamos vendo o melhor em ação. Sinto muito pelos que tentam tirar seu trono, mas esse garoto é diferente, melhor; somos felizardos por tê-lo.

Sob Guardiola, Messi teve total liberdade em campo, o que resultou na sua melhor marca de gols na carreira: ele anotou 91 gols em 2012, batendo o recorde anterior de 85 gols oficiais em uma única temporada, que pertencia ao Gerd Muller, lendário artilheiro alemão.

Também naquele ano, o grande Johan Cruyff, ídolo do Barcelona, Ajax e Seleção Holandesa, conhecido por ser muito crítico do futebol contemporâneo, não poupou elogios ao Messi e ao clube catalão:

Para o futebol, Messi é uma joia, porque ele é um exemplo para toda criança do mundo… O Barça jogo um tipo de futebol que diverte todos no mundo, e tem um técnico com grandes qualidades humanas, algo que é muito importante nos tempos atuais.

Após Messi marcar inacreditáveis 5 gols contra o Bayer Leverkusen nas oitavas da Champions League em 2012, seu colega de profissão, Wayne Rooney (que jogara anos antes ao lado de Cristiano Ronaldo no Manchester United), de forma sucinta, sentenciou: “Messi é uma piada. Para mim, o melhor de todos os tempos”.

 

Estatísticas e Principais conquistas entre 2011 e 2013:

186 gols em 165 jogos pelo Barcelona (média de 1,12). 22 gols em 29 jogos pela Seleção (média de 0,75). Total: 208 gols em 194 jogos (média 1,07).

Títulos: 2 Campeonatos Espanhóis, 1 Champions League e 1 Mundial de Clubes.

Ballon D’or de 2011 e 2012.

Enfim, Pelé e Messi tiveram obviamente auges espetaculares. Pessoalmente, penso que o brasileiro foi ainda mais dominante em relação à sua época, contudo isso não diminui a grandeza do argentino. E vocês, caros leitores, o que acham?

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1 Comment

  1. Gabriel Dias

    Parabéns pelo brilhante texto. recheado de conteúdo que mostra a geniosidade de ambos. Pelé, para mim, o melhor de todos os tempos.

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