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John Stockton, armador que defendeu o Utah Jazz durante os 19 anos de sua carreira profissional (de 1985 a 2003), é o jogador com mais assistências na história da NBA: incríveis 15806 (média de 10,5 por jogo). Vale informar que quando se fala nesse tipo de recorde (como Lebron recentemente ultrapassou Kareem Abdul-Jabbar em total de pontos), conta-se apenas os jogos de temporada regular; excluídos, portanto, os playoffs.

O craque do Jazz manteve assustadora regularidade em jogos disputados durante toda a sua carreira. Um verdadeiro Iron Man, Stockton disputou todas as partidas possíveis (não contando playoffs) em 17 de suas 19 temporadas; 82 jogos em 16, e 50 no ano do lockout em 99, no qual houve menos jogos. Ele apenas não participou de 22 partidas do Utah Jazz durante todos aqueles anos; 18 em razão de lesão na temporada 97-98 — isso mesmo, apenas 4 ausências nas outras 18 temporadas!

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Obviamente, apenas a incomum durabilidade não se mostra capaz de explicar seu desempenho na armação de jogadas. Vários outros fatores contribuíram para números tão impressionantes.

Stockton foi um exímio pass first Point Guard, aquele tipo de atleta que, em vez de buscar fazer pontos ele mesmo, busca primordialmente deixar seu companheiro em boas condições de acertar a cesta. Apesar de não muito chamativo, de não dar passes esteticamente deslumbrantes, ele beirava a perfeição técnica, sempre transferindo a bola no momento ideal para os outros colegas do Utah Jazz.

Também foi essencial ter a companhia do lendário Karl Malone (ala de força, terceiro maior pontuador da história da NBA) durante 18 de suas 19 temporadas. Ambos jamais tiveram problemas como outras duplas famosas (Shaq e Kobe, por exemplo); ao contrário, tinham e até hoje têm relação fraterna, inclusive fora das quadras. Todo armador desejaria atuar ao lado de um big man como The Mailman, capaz de anotar pontos eficazmente tanto dentro do garrafão quanto nos arremessos de meia distância. Em razão de suas qualidades complementadoras, a dupla Stockton-Malone dominava o Pick and Roll, talvez a melhor de todo o sempre nesse tipo de jogada, muito difícil de ser marcada quando bem executada (clique aqui para aprender mais sobre o pick and roll)

Ademais, assim como seu parceiro, Karl também era um atleta incansável, atuando quase sempre nos 82 jogos de temporada regular.

Portanto, as assertivas acima ajudam a entender um pouco o recorde de Stockton. Sim, um pouco, pois vale de igual modo explicitar alguns dados curiosos que nos ajudam a compreender a imensidão de seus números de assistências em relação aos outros grandes da história da NBA:

Stockton possui 3715 assistências a mais que o segundo colocado, Jason Kidd.

Se retirássemos 5000 assistências da lenda do Jazz, ele ainda seria o quarto maior da história da liga; realizando-se o mesmo com Jason Kidd, este cairia para 19º.

Lebron James, 4º em assistências, tem 10420; o 64º, Kenny Anderson, tem menos da metade, 5196. Essa diferença de 5224 é menor que a de 5386 assistências entre Stockton e Lebron!

Se excluíssemos as 3 primeiras e as 3 últimas temporadas de Stockton, ele permaneceria o recordista da NBA em assistências. Resultado semelhante ocorreria se fossem retiradas suas 6 últimas temporadas.

Finalmente, se somássemos o total de assistências do líder anual desta categoria nos últimos19 anos (lembrem-se que Stockton jogou 19 temporadas), teríamos 14757, ainda inferior à lenda do Jazz (15806).

 

Não me sustento “apenas” nessas estatísticas hiperbólicas para afirmar o que consta no título deste post. Além de enorme talento e histórica durabilidade, um basquetebolista, para alcançar o recorde, teria também que dar a sorte de ter, durante toda sua carreira, como companheiro (e sem briga de egos!) um dos maiores scorers da história da NBA (um ala de força ou um pivô de preferência).

Mesmo tudo isso provavelmente não seria suficiente, pois o estilo do jogo atual, com ataques mais avançados, movimentação superior dos jogadores, faz com que a bola não mais fique tanto tempo na mão do point guard; a armação das jogadas é amplamente compartilhada entre os demais atletas. Essa mudança é um dos frutos da “revolução dos 3 pontos” na liga, representada por Stephen Curry (melhor point guard de sua geração), que causou e continua influenciando o desenvolvimento e surgimento de armadores com mentalidade primordial de pontuadores, deixando a armação em si em segundo plano, tanto quanto aos contemporâneos do craque do Warriors (Damian Lillard, Russell Westbrook, entre outros) quanto entre os jogadores mais jovens, como Ja Morant, Trae Young e De’Aaron Fox.

Talvez o último talentoso armador à moda antiga em atividade, Chris Paul, para alcançar o recorde de Stockton, teria que, aos 38 anos, conceder, nas poucas temporadas que lhe restam, mais de 1 terço das assistências que teve em sua inteira carreira profissional.

Além do mais, hoje vigora na NBA o que se chama de load management, ou seja, para preservar suas estrelas para os playoffs, os técnicos costumam deixá-las de fora de várias partidas; assim, raramente um jogador atua todos os 82 jogos da temporada regular.

Enfim, caros leitores, por tudo isso, sinto-me suficientemente confiante para afirmar que ninguém jamais vai superar o recorde de assistências do grande John Stockton!

PS: Ele também é líder com larga margem em roubos de bola, mas talvez esse seja assunto para um post futuro.

 

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