O título deste “post” pode causar certa confusão na cabeça do leitor; afinal, qual a relação entre Getúlio Vargas, antigo Presidente do Brasil, e o escudo do Bahia? Explico a seguir.
O Esporte Clube Bahia, fundado em 1931, teve à época seu escudo desenhado por Raimundo Magalhães:
Claramente inspirado no distintivo do Corinthians, principalmente sua versão de 1919, anterior à adoção da âncora, como visto abaixo.
Note que, assim como o símbolo do clube paulista, o tricolor baiano adotou as cores do Estado e inseriu sua bandeira no escudo.
Ademais, o torcedor do esquadrão deve ter percebido três consideráveis diferenças entre o logo original do clube e o atual. A primeira: “Sport” e “Club” foram traduzidos para o português: Esporte e Clube. A segunda: acréscimo de duas estrelas referentes aos títulos brasileiros de 1959 e 1988, adicionadas em 1989. Já a terceira demanda uma explicação mais bem detalhada: o escudo atual não mais possui uma cópia fiel da bandeira da Bahia, pois o triângulo foi retirado, e, em seu lugar, colocada outra bandeira menor igual à atual (uma bandeira dentro da bandeira), numa “estrutura que tem similaridade com diagramas e esquemas visuais que os matemáticos denominam de fractais”, segundo leciona Marcio Luis F. Nascimento, professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA – sugiro leitura de seu artigo para entender por que esse fenômeno torna único o escudo do Bahia). Mas resta uma pergunta: quando e por que o Bahia perdeu o triângulo?
Não encontrei resposta nos diversos livros sobre a história do Bahia. Entretanto, eu apresento aqui uma hipótese que considero bastante plausível; assim chega-se à parte que envolve Getúlio Vargas. Para facilitar a compreensão, importante fazer um breve resumo sobre o que aconteceu entre 1930 e a alteração do símbolo tricolor.
Em 1930, cessou a aliança política entre mineiros e paulistas (a famosa “política do café com leite”), pois, ao lançar Júlio Prestes, então Presidente do Estado de São Paulo, como candidato à Presidência do Brasil, os paulistas quebraram o revezamento de Presidentes do nosso país que havia entre os dois grupos. Eleito pelo voto popular, Prestes teve sua posse impedida por forças armadas lideradas por Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, no que se chamou de Revolução de 1930 (ou Golpe de Estado de 1930). Getúlio foi escolhido como Chefe do Governo Provisório, que durou até 1934. Quando da promulgação da Constituição de 1934, ele foi eleito Presidente pela Assembleia Constituinte.
Em 1937, com a outorga a Constituição em 10 de novembro daquele ano, Getúlio impôs uma ordem autoritária no Brasil, o período que viria a ser denominado de “Estado Novo”. Seu artigo 2º, como resquício das rusgas ainda presentes em razão dos conflitos armados entre as forças paulistas e as forças “brasileiras”, proibiu todos os símbolos que não os nacionais; logo, banidos, entre outros, os símbolos estaduais:
Art 2º – A bandeira, o hino, o escudo e as armas nacionais são de uso obrigatório em todo o País. Não haverá outras bandeiras, hinos, escudos e armas. A lei regulará o uso dos símbolos nacionais.
Em razão disso, apenas dezessete dias depois, em 27 de novembro, houve uma infame cerimônia com a presença do Presidente, na qual foram simbolicamente incineradas as bandeiras de todos os Estados do Brasil. Naquele evento, Francisco Campos, então Ministro da Justiça, discursou:
Portanto, factível concluir que provavelmente por isso o Bahia teve a alteração mencionada neste artigo: a retirada da verdadeira bandeira da Bahia do seu escudo.
PS: Caros leitores, principalmente os que, assim como eu, são sócios do Bahia, o que acham da volta da bandeira da Bahia, com seu triângulo, ao escudo tricolor? Adianto que defendo essa ideia; acho que seria vantajoso tanto esteticamente, quanto culturalmente. Um torcedor do Bahia, o artista e designer Michel Neuhaus, desenhou duas belas versões atualizadas de como seria o escudo com a volta da bandeira do Estado:
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Prezados leitores, cliquem no link abaixo para ler outro artigo sobre o Bahia neste blog: